Ao longo de 2020, o sentimento de muitos era de ansiedade pelo fim de um ano que veio com tantas dificuldades e desafios. Era uma situação sem precedentes na história, em que o inacreditável se tornou realidade, e o mundo precisou parar por conta de um vírus. O sentimento era de alívio, quando enfim, 2020 estava chegando ao fim.
Com a chegada de 2021, a esperança era de novos ares. Vacinas sendo aplicadas em ritmo acelerado, o Brasil se tornando um exemplo mundial no programa de vacinação, e as expectativas ficando cada vez melhores. Todos ansiosos com a retomada da economia, acompanhada de uma forte geração de empregos, e enfim, momentos mais tranquilos.
Infelizmente, o caminho que o país seguiu foi bem diferente. As expectativas não se concretizaram. A inflação disparou, impactando fortemente alimentos, combustíveis, gás de cozinha e habitação. Uma crise hídrica com consequências ruins para a inflação, já em 2021, elevou fortemente as tarifas de energia elétrica. A retomada da economia perdeu força, e a confiança do empresário e do consumidor foi diminuindo mês após mês. E por fim, o noticiário político acabou sendo dominado por uma disputa presidencial 18 meses antes das eleições. Com esses ingredientes, as reformas estruturais, que tanto precisamos para reorganizar as contas públicas e fazer do Brasil um país mais competitivo economicamente, foram deixadas em segundo plano. O foco das decisões do governo ficou no curto prazo, e isso comprometeu seriamente os objetivos de avanços estruturais tão importantes nesse momento do nosso país.
Se 2020 foi difícil, podemos dizer que 2021 foi ainda mais desafiador. E para falar um pouco sobre esse assunto, convidamos o nosso sócio-fundador, Marcos Barbosa, que vai responder a algumas perguntas e compartilhar suas percepções sobre esses pontos:
I: Para conseguirmos entender tudo que se passou neste ano, com tanta volatilidade e instabilidade política e econômica, como se comportaram os principais indicadores, e quais foram os reflexos deles no mercado financeiro?
M: Sim, 2021 foi um ano bem difícil, tão ou mais difícil que o ano de 2020, sobretudo aqui para investidores(as) brasileiros(as). Foi um ano em que a inflação voltou para um patamar de 2 dígitos e, com isso, as principais classes de ativos tiveram rendimentos muito abaixo da inflação, caso do CDI, poupança, os títulos do tesouro nacional ou rendimentos negativos, como bolsa de valores e fundos imobiliários. As únicas classes de ativos que tiveram um comportamento positivo foram os ativos no exterior, a bolsa americana, que teve mais um ano excepcional, as ações estrangeiras de uma forma geral ou então os títulos bancários, CDBs, LCIs e LCAs atrelados à inflação. Foi um ano em que a inflação dominou o cenário e os problemas em Brasília, questões políticas relacionadas ao governo, que já está pensando nas eleições do ano que vem. Isso fez com que a taxa de juros voltasse a subir muito rapidamente agora no fim do ano. Provavelmente, em breve teremos juros de dois dígitos também. Sendo assim, um ano muito difícil, tão ou mais que 2020.
I: Quais são as reflexões que podemos fazer num ano em que batemos o recorde histórico do Ibovespa no patamar de 130 mil pontos e, ao mesmo tempo, acompanhamos uma queda, com o Ibovespa batendo a mínima de cerca de 100 mil pontos?
M: Quanto à bolsa de valores, sei que muitos(as) investidores(as) estão sofrendo com a queda. Tivemos um pico de 130 mil pontos, que agora está próximo de 100 mil pontos. Nem foi um ano tão difícil. Historicamente, eu diria até que foi um ano na média. Se pegarmos os últimos anos da bolsa, veremos que é comum termos quedas entre máxima e mínima na casa dos 25 e 30 por cento. Então eu diria até que para a bolsa nem foi um ano tão ruim assim. O que agrava a sensação de ano negativo talvez seja a perspectiva, pois tínhamos uma expectativa muito positiva para o ano de 2021. Você tinha uma taxa de juros baixa, economia retomando, todo mundo saindo da quarentena, as empresas ganhando dinheiro, então se tinha uma expectativa muito positiva para a bolsa. Em determinado momento do ano, as instituições financeiras chegaram a trabalhar com Ibovespa a 140 mil pontos para o fim deste ano. Então por esse lado sim, não foi um bom ano, mas na média histórica, quando estudamos o comportamento da bolsa, sabemos que entre máxima e mínima é normal ter variações de 25 e 30 por cento.
I: Em um cenário político-econômico tão instável como estamos vivendo, como se proteger, sabendo que no ano de 2022 teremos eleições, e a tendência é que se mantenha esse clima de rivalidade política?
M: Quem trabalha no mercado financeiro costuma dizer que a gente mede a experiência pelo número de eleições de que você já participou já como profissional de mercado. Então, quem está acostumado, quem tem uma certa experiência, sabe que ano de eleição é um ano complicado, sendo assim, sempre nos preparamos para o pior. Nem sempre o pior acaba acontecendo, porém, com a expectativa negativa, o mercado já precifica esse cenário e, quando o pior não acontece, há uma correção de preços. Então eu diria que é difícil dizer, mas o recado é manter a calma, procurar manter a liquidez, se aproveitar da melhor maneira possível dos ativos indexados à inflação e à taxa de juros. Mas não comprar também aquele cenário de fim do mundo, que o mundo vai acabar. Já passamos por situações ruins e mais graves, como foram a própria pandemia e a crise de 2008. Então eu diria que a melhor forma de se proteger é manter uma carteira diversificada e um certo nível de liquidez, para aproveitar as oportunidades, como no caso da renda fixa, que voltou a entregar um rendimento atrativo, mas não renunciar completamente à renda variável. Neste momento em que ninguém quer saber da bolsa, nem de fundo imobiliário, é que surgem as melhores oportunidades.
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