Você já deve ter ouvido muito sobre o “Índice Bovespa” ou “Ibovespa” na televisão, nas redes sociais e, principalmente, no que tange ao mercado financeiro. Mas você sabe o que é esse índice? Ele é o principal indicador de desempenho das ações negociadas na Bolsa de Valores, a B3, e reúne as principais empresas do mercado de capitais brasileiro. Foi criado em 1968 e consolidou-se como referência para os investidores.
E qual a importância e a utilidade desse índice? Quando analisamos seu gráfico e acompanhamos sua cotação diariamente, podemos sentir como está a economia do país, a saúde das empresas e, principalmente, tomar decisões com maior segurança sobre as operações que realizamos no mercado de capitais. Fazendo uma analogia, o Índice Bovespa funciona como um termômetro do otimismo e do pessimismo da Bolsa.
Então, conhecer seu histórico e analisar tendências é fundamental para qualquer investidor(a). Nesta edição vamos falar um pouco sobre a história do nosso país e do mundo, relacionando-a ao gráfico do Ibovespa.
E quem vai dividir conosco as experiências e emoções dessa história de mais de 50 anos da criação do Ibovespa são os mentores da Ímpar, convidados da entrevista: Oswaldo Almeida, sócio-fundador, que iniciou no mercado de capitais pouco depois do Ibovespa, em 1970, Rosana Gualda, sócia, que iniciou no mercado em 1982 e Marcos Barbosa, também sócio-fundador, que atua na área desde 1998. Somadas as vivências no mercado desses três assessores de investimentos, são mais de 100 anos de histórias e experiências! Abaixo destaco alguns trechos da nossa conversa. Você pode acompanhar o material completo na versão podcast.
I: Oswaldo, como foi para ele começar em 1970, numa época em que a bolsa de valores não era conhecida como hoje e o Ibovespa tinha acabado de ser criado?
O: Em 1970 o Brasil vivia o milagre brasileiro, o PIB crescia 10%, e realmente o mercado de bolsa de valores era uma novidade na época. Talvez, se compararmos aos dias de hoje, seria como a internet e a tecnologia, que vêm avançando muito. O otimismo era muito grande, e ter participado desse momento trouxe bastante experiência para um rapaz de 17 anos, idade que eu tinha à época. Em 1970, já se tinha uma estrutura para analistas avaliarem empresas. Os fundamentos, de uma forma geral, não mudaram tanto. É importante conhecer as empresas, sua capacidade de produção e de crescimento.
I: Não demorou muito e veio um momento delicado: a hiperinflação e o famoso confisco das poupanças na era Collor. Rosana, como foi passar por isso?
R: Muito desafiador. Eu era jovem na época, inexperiente, o medo e as incertezas eram grandes com o cenário. Início dos anos 90, Collor recém-eleito, ganhou do Lula ajudado pelo mercado financeiro, inflação nas alturas, todo dia os produtos nos supermercados sofriam aumento de preço, congelamento das cadernetas de poupança e dos investimentos, e o mercado financeiro sofrendo. Acho que foi uma das maiores quedas do Ibovespa. Na realidade um aprendizado e uma preparação para as futuras crises que vieram ainda na década de 90.
I: No final da década de 90, início dos anos 2000, tivemos diversos acontecimentos, crise financeira asiática, crise econômica russa, desvalorização do real, estouro da bolha da internet, atentado de 11 de setembro. Marcos, você iniciou nesse mercado em 1998 em meio a essas crises, como foi essa experiência para você?
M: Eu comecei a trabalhar muito cedo no mercado financeiro, desde muito jovem eu sabia o que eu queria estudar. Sempre fui muito bom em história, matemática e geografia. Desde meus 14 ou 15 anos, eu queria fazer economia. E tive o privilégio de começar a trabalhar em corretora de valores antes mesmo de entrar na faculdade. Em 1998, eu era um garoto de 18 anos, deslumbrado por estar trabalhando na mesa de operações. Na época você tinha o pregão viva-voz, os operadores trabalhavam com três ou quatro telefones, às vezes falando simultaneamente em mais de uma ligação. Eu ainda não atendia clientes diretamente, mas eu assessorava os operadores de mesa, então foi uma grande escola e guardo ensinamentos até hoje. E realmente foi uma época de muitas crises, um belo batismo! Depois cursei economia, me formei, mas acredito que nenhuma faculdade me passaria todo o aprendizado que essas experiências me proporcionaram.
Tivemos uma crise financeira global em 2008, que veio em um momento em que o Brasil crescia muito, estávamos num momento muito positivo. Como foi para vocês passar por essa crise e quais aprendizados tiraram dela?
M: Sim, 2008 foi um ano bem marcante. Nós tivemos um primeiro semestre espetacular em que o Brasil conseguiu o famoso “investment grade”, que perseguia há muitos anos. Com as commodities brasileiras se valorizando, a Bolsa de Valores batendo recordes, fomos até 73 mil pontos. Entrei de férias, ainda no primeiro semestre, e quando retornei a Bolsa de Valores já tinha caído e já dava sinais de que a crise americana poderia piorar. Ninguém imaginava que ela poderia ser daquela magnitude, realmente foi uma crise muito séria em que bancos centenários, como o Lehman Brothers, quebraram, outros quase quebraram. A principal lição é a importância da diversificação. O(a) investidor(a) nunca deve concentrar seu patrimônio, mesmo sendo em empresas centenárias e aparentemente sólidas.
O: Me atrevo a fazer algumas considerações e gostaria de começar provocando vocês com um questionamento: será que o crescimento econômico brasileiro e norte americano na época era sustentável? Nem sempre crescimento significa que o que se está adotando de política econômica e social está correto e que trará bons resultados de forma constante. Por isso a necessidade de estarmos sempre atentos a possíveis crises, diversificando os investimentos, colocando no portfólio empresas sadias, com capacidade de sobreviver a instabilidades políticas e econômicas, seja através de investimentos em outros países, em setores econômicos diferentes ou tipos diferentes de produtos, entre renda fixa, fundos e renda variável, sempre de acordo com o seu perfil de investidor e objetivos.
R: Para mim foi admitir que mesmo sendo muito grandes, tanto bancos quanto empresas podem quebrar, que o risco é para todos. E analisar e entender tudo isso sabendo que tudo isso é diferente em cada crise. Os imóveis naquela época eram subvalorizados nos Estados Unidos, havia crédito à vontade. Na hora em que cortaram esses créditos, as pessoas não tinham mais como pagar seus financiamentos. Não foi uma marola como disse nosso presidente na época. Sofremos mais uma vez. O que pudemos perceber é que nossas instituições financeiras estavam fortalecidas e puderam passar por mais esse momento de instabilidade e se reerguer.
I: O tempo nos traz experiência, maturidade emocional e com certeza mais tranquilidade para tomar decisões. Em 2014 acompanhamos uma crise econômica e política. Depois de anos vivenciando altos e baixos, vocês se sentiam mais preparados para passar por mais esse momento?
O: Eu acredito que a economia acaba mudando a política. Em 2013 tivemos a população demonstrando a insatisfação em relação à gestão pública. Em 2014, com o impeachment, percebemos uma tendência de mudança, aumentou-se o incentivo aos investimentos privados, foram feitas mudanças e reformas importantes para que se desse espaço para as empresas crescerem e evoluírem. No mercado financeiro, cada vez mais, aumentaram-se as ofertas de produtos que ajudam e têm como objetivo principal capitalizar as empresas, acreditando no crescimento do país.
M: Sim, sem dúvida. No meu caso, em 2014, eu já estava com mais de 15 anos de experiência, mantendo contato com outros profissionais também muito competentes e vivenciando aquele dia a dia, acumulando uma bagagem que torna as passagens por essas crises menos sofríveis. Claro que é sempre complicado, tenso, as pessoas sempre acham que o mundo vai acabar. Mas, com a experiência e o domínio do tema, você sabe que o mercado trabalha em ondas, e que esse momento de crise e tensão é temporário.
R: Acredito que sim, mas o desenrolar de cada crise traz muitas novidades e novos aprendizados. Nós nunca sabemos como vai terminar. Nessa época, 2º mandato da Dilma, houve muitas intervenções em vários setores, controlando preços. Logo em seguida vieram a Lava Jato e o impeachment, e estamos pagando por isso até hoje. Infelizmente, com um impacto a mais por conta da pandemia.
Para finalizar, não poderíamos deixar de falar do que estamos vivendo. Com crises políticas e econômicas vocês têm muita experiência, mas uma crise sanitária juntamente a uma crise político-econômica como a que estamos passando, foi surpresa para vocês? O que vocês sentiram de diferença entra esta crise e as demais?
R: O sentimento é que cada crise que vem sempre é pior que as anteriores. Hoje são várias ao mesmo tempo, impactando o mundo todo, infelizmente. É preocupante o radicalismo em tudo, mas a globalização cada vez maior traz algumas conquistas, como por exemplo, a vacina, que foi desenvolvida em meses com os países juntando suas pesquisas.
O: Evidente que jamais poderíamos imaginar uma crise sanitária como mola propulsora como a que vivemos. Talvez não seja a pior crise, mas a que nos trouxe grandes aprendizados. Gosto de sempre reforçar que devemos olhar também para pontos positivos, como por exemplo, a capacidade vacinal que o Brasil possui e, se nos compararmos com países desenvolvidos, fomos mais eficientes em alguns aspectos. Toda crise nos ensina alguma coisa. Essa crise sanitária acentuou meu sentimento de necessidade de mudança, vendo a dificuldade da maior parte da nossa população, que tem poucos recursos, que está vivendo momentos muito difíceis com a alta de preços e inflação.
M: Eu costumo dizer que a pior crise de todas é sempre a crise atual, porque você não sabe como ela vai terminar e quando ela vai acabar. Quando você olha para trás, você consegue analisar se suas decisões foram as melhores, se acertou nas escolhas. Então fica mais fácil de você avaliar. Você pode até concluir que a crise nem foi tão grave assim se comparada ao momento em que ela estava sendo vivenciada. No caso da crise da pandemia, talvez a grande diferença tenha sido a preocupação com vidas, já que nas crises passadas não se tinha esse foco de preocupação.
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