Recentemente os títulos do Tesouro Nacional voltaram a pagar taxas acima de IPCA + 6% ao ano, e vemos os jornais, analistas e imprensa especializada destacando a atratividade da taxa. Não há dúvidas de que garantir com risco soberano um rendimento real acima de 6% ao ano, é uma supertaxa de rendimento. Historicamente somente ativos de risco elevado superaram tal rendimento.
No entanto, vemos muitos investidores utilizando tal instrumento de maneira incorreta, hora alocando recursos de curto prazo em títulos de longo prazo, hora alocando recursos de longo prazo em títulos que vencem em poucos meses. Tais erros provocam prejuízos e desconfortos totalmente evitáveis com o mínimo de conhecimento sobre como esses investimentos funcionam.
O Tesouro IPCA+, também chamado de NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B), entrega aos investidores uma taxa fixa de juros, mais a variação da inflação medida pelo IPCA, que é o principal índice de inflação brasileiro e que serve de referência para a meta de inflação perseguida pelo Banco Central do Brasil.
Exemplos: com uma taxa de IPCA + 6% ao ano, se o IPCA anual for de 4%, o(a) investidor(a) receberá um rendimento de 10,24%. Se o IPCA for de 6%, o rendimento será de 12,36%, sempre utilizando juros compostos.
Apesar de possuir vencimentos curtos, é indicado para investimentos com horizonte de médio ou longo prazo, no mínimo 3 anos. Entretanto, o ideal seria de 4 ou mais anos na maioria dos casos.
O rendimento contratado é válido desde que o(a) investidor(a) leve a aplicação até a data de vencimento. No decorrer do caminho, o(a) investidor(a) notará que o rendimento do título não é linear e, em muitos casos, pode ficar inclusive negativo. Vemos muitos investidores estranhando a variação negativa de uma aplicação feita em títulos do Tesouro. Como é que um título de renda fixa do Tesouro pode apresentar rendimento negativo?
Isso acontece em função da chamada marcação a mercado, que é o mecanismo matemático que ajusta o valor do título para refletir as atuais condições de mercado. Em outras palavras, ela aponta com transparência qual o valor instantâneo de venda (resgate antecipado) ou compra (nova aplicação) do título naquele exato momento.
Exemplo: o(a) investidor(a) aplicou no Tesouro IPCA com vencimento em 5 anos e taxa de IPCA + 6% ao ano. Se daqui 1 ano, a taxa desse mesmo título estiver em IPCA + 5%, o título comprado a IPCA + 6% passaria a ser negociado com ágio (um lucro extra), ou seja, os demais investidores pagariam mais pelo seu título, por não terem mais a disposição a taxa de IPCA + 6%. Note que o contrário também é verdadeiro. Se daqui um ano a taxa do mesmo título estiver em IPCA + 7%, o seu título passaria a ser negociado com deságio (desconto), ou seja, os demais investidores só comprariam seu título com desconto, pois teriam uma taxa mais alta a disposição.
Quanto mais longo o vencimento do título, mais sensível ele é à variação da taxa de juro. Títulos com vencimentos em 5, 10 ou 20 anos se comportam de forma bem distinta em relação à variação da taxa de juro.
De forma bem simplificada, para que os investidores tenham uma ideia do impacto que a variação de 1% na taxa de juro provoca no valor do seu título, basta multiplicar o prazo de vencimento do título (medido em anos) por 1% para obter o percentual aproximado de ágio ou deságio do título.
Exemplo: um título com vencimento em 5,5 anos. Se a taxa de juro do título cair 1%, ele passa a ser negociado com ágio de 5,5%. E se a taxa de juro subir 1%, o título passa a ser negociado com deságio de 5,5%.
É muito importante frisar que, independentemente de todas essas questões relacionadas à marcação a mercado ou à taxa de juro, se o(a) investidor(a) levar a aplicação até a data de vencimento, ele(a) terá a rentabilidade exata contratada no ato da aplicação.
Nada impede o(a) investidor(a) de resgatar antecipadamente um título com vencimento em 6 meses ou 20 anos, mas é preciso ter ciência do risco da marcação a mercado. O ideal é que os investidores casem o seu horizonte de prazo de investimento com o vencimento do título e só realizem o resgate antecipado em situações de ágio.
O Tesouro IPCA+, ou NTN-B, pagando taxas acima de IPCA + 6%, é uma bela oportunidade, mas é preciso saber usar e dosar corretamente. A diferença de resultados pode ser absurda.
Outro ponto a se atentar é que a marcação a mercado é válida somente para títulos do Tesouro ou privados (debêntures, CRIs e CRAs). Os títulos bancários, como CDBs, LCIs, LCAs, LIGs e LFs atrelados ao IPCA, não são marcados a mercado. O resgate antecipado gerará deságio, podendo, em alguns casos, deixar o investimento com prejuízo, independentemente da variação da taxa de juros.
Na dúvida, consulte seu assessor ou sua assessora de investimentos ou profissional da sua confiança.
Até a próxima!
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