
Poupar dinheiro para investir pode ser uma tarefa desafiadora por diversos motivos. As despesas fixas, como aluguel, contas, alimentação, filhos, muitas vezes consomem a maior parte da renda, deixando pouco ou nada para economizar. Além disso, a falta de conhecimento em finanças pessoais pode dificultar a criação de um plano de poupança eficaz.
A pressão social para consumir, o apelo das compras imediatas ou a priorização de gastos supérfluos também podem levar ao desperdício, tornando mais difícil a acumulação de recursos. Os imprevistos financeiros, como emergências e dívidas inesperadas, podem desviar o foco da poupança.
Essas barreiras tornam essencial o desenvolvimento de hábitos financeiros saudáveis e a adoção de estratégias que ajudem a priorizar a poupança como um passo fundamental para o investimento.
Apenas para efeito de ilustração, vou separar a decisão de investimento em duas partes, que são passiva e ativa, sendo a primeira o ato de poupar e a segunda, o ato de investir. Poupar é uma coisa sem graça. Todo mês deixamos de comprar algo que gostaríamos muito de usufruir ou de poder ostentar. É como se nada fizéssemos, só sacrifício.
Já a parte ativa, essa é charmosa - estudar o mercado, selecionar o investimento, correr o risco - e, se bem-sucedida, cria a sensação de sucesso. Faz bem ao ego. É verdade que muitas vezes resulta em prejuízo e arrependimento. Mas, nesses casos, sempre é possível culpar o mundo pelos nossos erros.
Para usar apenas o exemplo mais famoso, muito se escreve sobre Warren Buffett, sua riqueza e suas técnicas ou princípios de investimento. Muito se foca em sua sagacidade, capacidade de antever o que vai acontecer, como ele sabe qual ação comprar e qual a hora certa de negociar.
Contudo, poucos livros ou matérias na internet ou na imprensa abordam sua disciplina para poupar, embora ele usualmente fale sobre seus hábitos espartanos.
Fala-se bastante sobre o sucesso de suas escolhas de investimento, mas pouco se diz sobre como ele, mesmo depois de bilionário, continuou levando adiante seu mantra sobre poupar e poupar. Boa parte da riqueza de Buffett veio de sua capacidade de abdicar dos prazeres da vida, de não se preocupar em ostentar e de manter um padrão de vida muito, muito aquém do que poderia.
Por mais que Buffett tenha tido a capacidade de prever e investir, o que mais contribuiu para sua riqueza foi sua disciplina em poupar por anos. Tão ou mais importante do que as apostas certeiras foi a disciplina.
Mas essa parte da história, que eu ilustrei como passiva, não tem glamour. É só sacrifício, disciplina e não tem o herói da jornada. Afinal, ele não teve de tomar nenhuma decisão inteligente e ousada. Se bem que, para poupar, ele teve muita força de vontade.
Para concluir, olhar para os mitos dos investimentos, procurar heróis, não vai fazer ninguém mais rico. O que pode tornar nosso futuro financeiro mais promissor são coisas tão simples e que podem estar muito próximas de nós, tais como o autocontrole e a disciplina para poupar e investir de forma consciente, de acordo com o nosso apetite a risco, objetivos e diversificação.
Não tem grandes charmes, não dá para contar vantagens e não nos faz sentir heróis, mas é a única forma de construir um futuro financeiro digno e confortável.
Bons investimentos.

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