
A relação entre profissionais de investimentos (assessores/consultores/gestores) e seus clientes possui diversas semelhanças à de médicos e seus pacientes, especialmente no que diz respeito à necessidade de equilibrar os desejos dos investidores ou pacientes com o que é realmente benéfico para eles. Segurança, análise de riscos, conhecimento, bem-estar, controle emocional, acompanhamento, preocupação com o longo prazo, são expressões comuns no consultório ou no escritório de assessoria.
É claro que todos são livres para fazer aquilo que desejam com sua saúde ou dinheiro. Porém, esses profissionais têm a responsabilidade de guiar seus clientes sob os mais elevados padrões de ética, de modo individualizado e considerando sempre os riscos e benefícios de cada tomada de decisão, mesmo que isso signifique contrariar suas vontades imediatas. Um médico, ao atender seu paciente, deve sempre considerar os desejos e preocupações deste. No entanto, a prioridade do médico deve ser a saúde e bem-estar do paciente, seja no curto, médio ou no longo prazo.
Um paciente pode desejar um medicamento ou tratamento específico que viu na internet ou que funcionou muito bem com um amigo. No entanto, com base em seu conhecimento, experiência e no histórico do paciente, o médico pode entender que esse remédio ou tratamento não seja o mais adequado ou seguro para a condição atual do paciente. Nesse caso, o profissional de saúde deve explicar de forma clara os motivos pelos quais uma abordagem diferente seria mais apropriada, apresentando evidências e alternativas viáveis para o paciente.
Da mesma forma, um assessor de investimentos precisa ouvir seus clientes e entender seus anseios e preocupações, mas assim como o médico, não deve concordar com todas as suas vontades de curto prazo.
Um investidor pode estar interessado em alocar em ações de uma empresa que está na moda, acreditando que terá um retorno rápido. Em outros casos, pode ter visto uma oferta “imperdível” nas redes sociais ou recebido uma “dica quente” de um colega para realizar um investimento específico. No entanto, com base em sua experiência, conhecimento do mercado e do perfil e histórico do(a) cliente, o assessor de investimentos pode perceber que essa não é a melhor estratégia para ele, pois há riscos para a sua saúde financeira. Ele deve então alertar o investidor e aconselhar o uso de outras opções, explicando os riscos e benefícios de cada alternativa.
Atualmente vivemos a era da ansiedade, em que quase ninguém tem paciência para perseverar e colher os frutos dos processos de longo prazo. Sabemos que uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos trazem muitos e duradouros benefícios no médio e longo prazo. Mas a maioria quer emagrecer ou ganhar músculos em poucos meses ou semanas, com uso de remédios ou práticas heterodoxas.
Sabemos que uma carteira bem diversificada, com riscos alinhados ao perfil do(a) investidor(a), foco no longo prazo e aportes recorrentes, são pré-requisitos para o sucesso de uma carteira de investimentos.
Mas a maioria dos investidores, muitas vezes induzida pela indústria do mercado financeiro, tenta incansavelmente lucrar no curto prazo. Seja migrando constantemente de opções de investimento que não estão performando bem no curto prazo, seja usando instrumentos que não conhece ou com o famigerado day trade, o resultado quase sempre é negativo, gerando atrasos na construção do patrimônio.
É importante destacar também a importância da boa comunicação e da confiança. Ambos os profissionais devem ser capazes de traduzir informações complexas de maneira que seus pacientes ou clientes possam entender com exatidão. O mundo da medicina e do mercado financeiro envolve muitas questões técnicas, muitas vezes imprecisas. A comunicação eficaz é crucial para que os pacientes ou investidores se sintam ouvidos e respeitados, mesmo quando suas vontades não podem ser atendidas da maneira que desejam.
E quanto à confiança, é absolutamente fundamental na relação médico/paciente ou assessor/investidor, pois, sem ela, a comunicação se torna ineficaz e compromete os resultados futuros.
Então você já sabe: na saúde ou nas finanças, escolha profissionais experientes, que você possa confiar e que estejam sobretudo comprometidos com a sua saúde física e financeira, seja no curto, médio ou longo prazo. E quando ouvir um não do seu assessor ou da sua assessora de investimentos para aquela “dica quente”, lembre-se que ele(a) pode estar tentando evitar aquela dor de cabeça para você.
Até breve!

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